As botas encharcadas, as meias ensopadas, todo o seu corpo tremia, até o sobrado rangia ao absorver as passadas lentas e desalinhadas do homem do chapéu velho.
Foi neste péssimo estado que o homem do chapéu velho regressou à sua velha e romântica casinha, onde a sua companheira o aguardava já com alguma ansiedade, pois, a noite já tombara há algumas horas e o vendaval teimava em continuar e agravar-se até.
- Oh meu querido, como tu vens!... - impressionada e feliz ao mesmo tempo, interpelou-o antes de ele entrar na cozinha, onde ela se aquecia à lareira, sentada numa banquinha, baixinha, ficando com as nádegas a não mais que mão travessa do chão frio, granítico e húmido.
- Ajuda-me a tirar esta roupa, quase não consigo mexer os dedos, estão gelados... - tiritando de frio, implorou-lhe seu marido entre soluços entrecortados com as sílabas, escassas e enroladas.
A mulher levantou-se e, dirigindo-se a ele, beijou-o loucamente e sussurou-lhe ao ouvido:
- Amo-te, homem, ai ai, adoro-te. Vem, eu dispo-te, ponho a roupa a enxugar à lareira e vou dar-te um banhinho de água tépida, far-te-á bem, vem, vem...
(GM Lanterna Romântica 08-10-2010)